E já vamos no quinto Tête-à-Tête! O tempo passa a correr, não passa? Hoje trago-vos mais uma rapariga inspiradora, a Ana Duarte! Conheci esta lisboeta na HeForShe Lisboa, onde lutamos juntas pela igualdade de género. Foi notório o seu empenho para com a causa.
Mais tarde fiquei a conhecer o seu gosto por sustentabilidade, li uns textos seus e pensei logo “tenho de a levar ao Tête-à-Tête”. Para escrever esta introdução pedi a uma amiga sua que a descrevesse. Ela respondeu que era uma tarefa difícil mas decidiu-se por ambiciosa, inteligente, super trabalhadora e empática.
Falamos também de direitos humanos e Responsabilidade Social das Empresas! Fiquem a conhecer… a Ana!
Fala-nos um bocadinho sobre ti, para os nossos leitores te conhecerem.
Eu tenho 22 anos e sou licenciada em Direito. Neste momento encontro-me no primeiro ano do Mestrado em Direito e Gestão da NOVA School of Law e faço parte do NOVA Centre on Business, Human Rights and the Environment e da HeForShe Lisboa. Nasci em Lisboa, mas a minha infância foi passada entre a capital e a Sertã. Tive a sorte de crescer no Mercado de Arroios, que é onde os meus pais trabalham, e aí pude estar em contacto com muitas pessoas e com diferentes realidades. Desde os clientes, aos vendedores, passando pelos sem-abrigos que usavam o Mercado para passar a noite, fiz muitas amizades e aprendi com todos eles, sobre o que é a vida. Adoro o contacto com a Natureza, por isso mesmo na cidade tento ter as minhas plantas e alguns momentos onde possa respirar ar puro. Sou uma curiosa profissional, com um carinho muito especial pela Arte nas suas diferentes dimensões e ligeiramente workaholic.

Quais os valores que te movem?
Creio que os valores que me movem são o respeito, a empatia, a compaixão e a entreajuda. São estes que me inspiram no meu dia-a-dia e permitem-me delinear aquele que é o meu percurso. Todos os valores que referi foram aprendidos ao longo desta minha caminhada e tento que estejam presentes em todas as pequenas e grandes coisas que vou realizando.
Como surgiu a sustentabilidade na tua vida?
O meu interesse pela sustentabilidade surge da minha curiosidade, de ter sentido a necessidade de aprender mais coisas do que aquelas que me ensinaram ao longo da licenciatura, e da minha constante preocupação com o mundo que irei deixar para as gerações futuras. Desta forma, fui me informando mais sobre o que era isto de sustentabilidade e tentei procurar a sua ligação ao mundo do Direito. Acabei por fazer um trabalho na minha Pós-graduação sobre Sustainable Corporate Finance e Green Bonds, o que suscitou em mim uma ainda maior motivação para aprofundar os meus conhecimentos nestas áreas.
Quais/Quem achas que são os responsáveis por alterações climáticas?
Acho que todos nós somos responsáveis pelas alterações climáticas. Digo isto porque o modelo económico subsistente é o resultado de um pensamento que não acolhia preocupações com a escassez dos recursos naturais, nem com os possíveis impactos sociais, económicos e ambientais do consumo desenfreado e da produção em massa. Por esta razão não podemos apenas apontar o dedo a um sujeito quando ao longo da História toda a sociedade foi contribuindo para tal, seja através do seu consumo seja apenas por aceitarem ou não se imporem a determinados comportamentos. Acho que mais importante do que refletirmos sobre os responsáveis, porque será uma discussão sem fim, devemos agir e tentar remediar o que foi e continua a feito.
Quando falamos em sustentabilidade, muitos pensam só em proteção ambiental, mas esta é muito mais. Investigas a área de sustentabilidade e direitos humanos. Fala-nos um pouco como estes dois tópicos estão interligados.
O desenvolvimento sustentável, segundo o Relatório Our Common Future é um desenvolvimento que procura atender às necessidades atuais, sem colocar em causa as necessidades das gerações futuras. Desta forma, a sustentabilidade comporta três dimensões: ambiental, social e económica. A primeira dimensão, e mais conhecida, diz respeito aos recursos naturais do nosso planeta e como estes apresentam limitações. A social aborda questões como as desigualdades ainda existentes e as suas consequências, a satisfação de necessidades básicas e a melhoria da qualidade de vida. Por fim, a dimensão económica recai sobre um modelo económico que valorize e respeite as outras dimensões, permitindo o crescimento de uma economia ética e justa. Estas dimensões encontram-se interligadas e são interdependentes. Por exemplo, quando falamos em direitos humanos temos de ter em mente que as alterações climáticas colocam em risco a completa satisfação e fruição dos nossos direitos. Pensemos nas populações com maiores fragilidades e carências socioeconómicas, que têm difícil acesso a cuidados de saúde. O aumento das temperaturas e a poluição poderão implicar o difícil acesso a alimentação e a água potável, tal como poderão significar diferentes problemas de saúde, entre os quais a nível respiratório, o que colocará em risco estas vidas. Por isso, é tão importante compreendermos que a sustentabilidade não se limita à proteção ambiental, mas sim à proteção de todos os seres do nosso planeta.
Um dos teus interesses é Corporate Social Responsibility. Explica-nos o que é isso e a importância das empresas terem esta componente.
Corporate Social Responsibility ou Responsabilidade Social das Empresas é um conceito de difícil definição porque este tem evoluído com as nossas preocupações e exigências. No entanto, pode ser entendido como uma obrigação voluntária das empresas de agir sobre os seus impactos sociais e ambientais. Digo obrigação porque cada vez mais esta é entendida como uma obrigação moral/ética, como um dever que surge das diferentes pressões externas que recaem sobre as empresas e do facto de estas utilizarem, na sua atividade, recursos que são de todos e que são escassos. A parte da voluntariedade tem na sua base o facto de esta não ser nenhuma obrigação legal, mas sim algo que as empresas escolhem fazer e em que moldes o fazem.
As práticas e políticas de responsabilidade social são uma forma de fomentar uma cultura empresarial respeitadora e consciente, daí a sua importância. A proatividade das empresas será uma mais-valia para que possamos ter um desenvolvimento sustentável.

E nós, “pessoas normais” que podemos fazer para influenciar empresas a ser mais sustentáveis?
Acho que nós “pessoas normais” por vezes não compreendemos o poder que temos. Enquanto consumidores temos o poder de escolher o que queremos consumir e demonstrar as nossas preferências. Desta forma, podemos não escolher determinados produtos ou escolher outros por terem preocupações com a sustentabilidade. Para além deste facto, temos ainda a pressão social que podemos fazer sobre determinadas empresas, utilizando, por exemplo, as redes sociais para abordar questões relacionadas com este tema. Importa compreendermos que podemos ser agentes ativos na mudança e também exigi-la às empresas.
Qual um desejo teu para o futuro?
Gostaria, acima de tudo, de poder assistir a um mundo mais igual, onde houvesse mais entreajuda, companheirismo e respeito.
Sugestões da Ana

Livro: “Doughnnut Economics” de Kate Raworth
Podcast: NOVA Centre on Business and Human Rights and the Environment
Documentário: “A Life on Our Planet”