ESTIMA-SE QUE, TODOS OS ANOS, OS OCEANOS SEJAM POLUÍDOS COM CERCA DE 4,8 MILHOES A 12,7 MILHÕES DE TONELADAS DE PLÁSTICOS.

Tête-à-tête com Bárbara Marques

Barbara_Marques

Como o título indica, hoje falo com a Bárbara Marques, ou como eu a conheço Babi. Para os mais atentos, a Bárbara não é nenhuma desconhecida pois também escreve aqui no Reciclar Não Chega. Então mas vou entrevistar outra pessoa que faz parte da equipa? Claro! A Babi normalmente escreve sobre outros tópicos, não sobre ela, e tem uma história tão rica, que merece ser partilhada. 

Já conheço a Babi desde de pequena mas odiavamo-nos, até que nos voltámos a reencontrar já mais velhas nos escuteiros, e a partir dai nunca mais nos largámos. Desde que comecei a ser mais sustentável e mudei a minha alimentação, a Bárbara tem sido a minha parceira nesta aventura! Recentemente, também lançou um podcast Planeta Berde, que não vão querer perder!

Eu já te conheço muito bem, mas os nossos leitores não. Fala-nos um bocadinho sobre ti.

Tenho 25 anos e cresci numa cidade pequenita no centro de Portugal, Abrantes. Estudei Turismo Internacional e Gestão de Empresas no Reino Unido e na Gran Canaria e foi a meio da licenciatura que a sustentabilidade “apareceu” na minha vida. Comecei a interessar-me tanto que neste momento estou a fazer mestrado em Desenvolvimento Sustentável! Sou fã da mãe natureza e acho que poucas coisas me fazem tão feliz como estar no campo, acampar e nadar no rio. Gosto de dizer que sou uma aventureira porque faço desportos como escalada, ski e cannyoning mas admito que tenho quase sempre os nervos à flor da pele – acho que é disso que gosto, de sentir a adrenalina e o medo mas ultrapassá-los e depois sentir que sou capaz de ultrapassar qualquer coisa! Gosto de ler, de arte (fazer e apreciar), de comer e cozinhar, de animais (todos, não só cães e gatos) e de falar sobre o nosso Planeta que precisa tanto de nós neste momento.

Quais os valores que te movem?

Há um valor que eu sei que nos move às duas, que é “Deixa o mundo um pouco melhor do que o encontraste” – que aprendemos nos escuteiros. É dos que está mais presente no meu dia a dia e tento segui-lo sempre. E “Be kind”, simples mas que diz tanto e me faz todo o sentido. Diria que estes dois acabam por ser o ponto de partida para ser mais generosa e respeitadora, para julgar menos e ajudar o próximo.

És uma amante da natureza, são mais as vezes que andas por aí na natureza, do que ficas em casa. Como nasceu este bichinho em ti?

Costumo dizer que o bichinho já nasceu comigo. Há uma fotografia que adoro da minha mãe, grávida de mim, na Serra da Estrela cheia de neve, ao lado de uma tenda. Acho que o amor dos meus pais pela natureza e pela aventura passou para mim e para a minha irmã diretamente. Todos os fins de semana de manhã íamos passear a pé ou andar de bicicleta, as férias eram praticamente sempre ativas: no inverno íamos para Andorra esquiar, no verão íamos para sítios verdes onde pudéssemos fazer caminhadas e explorar a natureza – lembro-me de quando fiz a minha primeira caminhada sozinha (ou seja, sem o meu pai ter de me levar às cavalitas haha) nos Açores, e de como isso me fez sentir que conseguia fazer tudo o que quisesse. Para mim, a Natureza é o melhor anti-depressivo que existe e nada me cura e me inspira mais que ir passear numa floresta, num parque verde, ir ver o mar, subir a um ponto alto e respirar ar puro.

Em 2017, foste de bicicleta com o teu pai desde o cabo da Roca, Portugal, ao cabo da Norte, na Noruega. Conta-nos como foi essa aventura e a beleza do mundo que encontraste.

Foi realmente life changing! Sinto que aprendi mais nos 365 dias da viagem do que em alguns anos de escola. Viajar como nós viajámos é das melhores maneiras de conhecer a cultura e as pessoas de cada país. Tivemos pessoas a dormir no sofá para termos uma boa noite de sono numa cama, pessoas que nos compraram comida, que nos convidaram para uma refeição quente, que nos mostraram a cidade deles e nos ensinaram imenso – com muitas delas ainda hoje falamos! Aprendi a julgar muito menos, a escutar, a ser mais resiliente e a acreditar em mim própria. É muito difícil falar pouco quando se trata desta viagem, porque há tantas histórias e aprendizagens que gosto de partilhar!

Sei que és vegetariana, fala-nos um pouco do porquê de teres tomado esta decisão e como tem sido a tua experiência.

Gostava de ter uma resposta muito bonita, mas a verdade é que deixei de comer carne “porque sim”, foi uma decisão impulsiva sem qualquer fundamento. Mas depois comecei a ver vídeos no youtube de pessoas que se tinham tornado vegetarianas/ vegan e percebi que haviam razões interessantes por trás destas decisões. Comecei a ler imenso sobre a indústria dos produtos animais, a ver documentários e a informar-me mais, e aos poucos fui criando a minha própria razão. Depois da carne, deixei de comer peixe e de beber leite de vaca – foi uma transição muito soft! 99% do que como é de base vegetal mas não gosto de me colocar em caixinhas por isso não me considero vegan. Os meus pais têm galinhas no jardim e às vezes como ovos delas; uma vez por outra vou ao starbucks e esqueço-me de pedir bebida vegetal em vez de leite de vaca e bebo na mesma; se a minha avó fizer um bolo com leite e ovos e me oferecer eu não recuso… Mas sem dúvida que deixar de comer carne e peixe e reduzir os produtos de origem animal foi das melhores decisões! Sinto-me melhor (física e mentalmente) e adoro passar tempo na cozinha a inventar receitas ou a recriar pratos que antes adorava e tento ir partilhando para mostrar que uma alimentação plant based não tem de ser chata, cara e sem sabor. Tenho a certeza que não vou voltar a comer animais, pela vida deles, pela minha saúde e pelo nosso planeta.

Para pessoas que querem fazer transição para uma alimentação vegetariana/vegan, que dicas tens?

Diria para fazerem uma transição calma, não há necessidade de cortar tudo de uma vez porque às vezes é pior. O mais importante é reduzir a carne, principalmente carnes vermelhas, e o peixe. Se acham que não conseguem viver sem queijo okay, continuem a comer mas menos vezes. Se viverem com outras pessoas, tentem não impingir nada a ninguém – proponham as “segundas sem carne” ou fazer uma refeição sem animais dia sim dia não e façam comidas bonitas e saborosas que falam por si! Hoje em dia há substituições vegetarianas/ vegan para tudo, desde carne a queijo. Se têm saudades de algum prato ou de algum alimento, de certeza que encontram uma versão plant based super deliciosa na mesma.

Alertas muito as pessoas para o fenómeno das alterações climáticas e defesa animal, já te disseram alguma vez “Há coisas mais importantes para nos preocuparmos que isso”?

Admito que ainda não lido muito bem com esse tipo de comentários, ainda estou a aprender… Custa-me muito termos cientistas de todo o mundo a dar-nos todos os factos que precisamos para acreditar e termos provas todos os dias e, ainda assim, as pessoas não quererem saber destes temas. Tento sempre mostrar o meu ponto de vista com calma e com um sorriso para não gerar discussões. Sou péssima a decorar factos e números por isso tento usar exemplos do dia a dia e assuntos que não pareçam distantes – por exemplo, falo da questão da escassez de água que irá afetar Portugal num futuro próximo, em vez de falar de tsunamis ou tornados (que não são tão comuns cá). Às vezes os argumentos que me dão são de coisas irrealistas e sobre as quais nós não podemos realmente fazer nada diretamente mas para as quais podemos contribuir de certa forma – as alterações climáticas afetam muito mais do que a metereologia, e é isso que tento explicar. Se forem pessoas muito insistentes e que não estejam a respeitar a minha posição, faço por não discutir mais. Acho que o pior que podemos fazer é não saber manter a conversa, porque acabamos por “perder”.

Para o futuro, sei que tens vários desejos, algum que possas partilhar aqui?

Tenho mesmo muitos, acho que demasiados! Quando te respondi às perguntas pela primeira vez disse que o projeto que estava mais perto de ficar pronto era um podcast sobre sustentabilidade. Entretanto já saiu e já tem três episódios! Chama-se Planeta Berde e podem ouvir no Spotify – é em Português porque, apesar da sustentabilidade estar “na moda,  acho que ainda há poucas pessoas a falar sobre o tema em Portugal. Tenho mais alguns planos, sendo que o maior sonho é ter uma quinta santuário, com animais resgatados. Pode ser que esteja para breve! 

Sugestões da Bárbara

Conta de instagram: David Attenborough

Série documental: “É p’ra amanhã”

Livro: “O futuro que escolhermos” de Christiana Figueres e Tom Rivett-Carnac

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RECICLAR NÃO CHEGA

The truth is: the natural world is changing. And we are totally dependent on that world. It provides our food, water and air. It is the most precious thing we have and we need to defend it.

David Attenborough