Uma semana depois, estamos de volta com o segundo Tête-à-tête, e vamos até Galway, na Irlanda, para conhecer a Iphi. Conheci-a quando participámos num intercâmbio Europeu e tal como a Inês, a minha primeira entrevistada do Tête-à-tête (quem não leu, de que está à espera?), foi amizade instântanea, não só pela personalidade parecida com a minha, mas também pelo facto de partilharmos os mesmos valores e ideais. Tem um extenso currículo de ativismo ambiental, nomeadamente com a Greenpeace.
Lembro-me de ler livros sobre a Greenpeace e sonhar um dia ser ativista ambiental, tal como a Iphi! Fiquem a conhecer não só esta rapariga incrível mas também dicas de ativismo!
Fala-nos um bocadinho sobre ti, para os nossos leitores te conhecerem.
Sou a Iphigenia, mas todos os meus amigos estrangeiros chamam-me Iphi. Tenho 25 anos e estou a tirar um mestrado em Advocacia Pública e Ativismo na Universidade Nacional da Irlanda. Sou da Grécia e passei a maior parte da minha vida adulta lá fazendo voluntariado (e mais tarde a trabalhar) na Greenpeace Grécia. Também na Grécia, fundei um grupo informal de youth workers (ténicos da juventude) e ativistas em que organizo workshops e projetos Europeus. Quando acabar o meu mestrado, quero continuar a crescer, aprender e mudar o mundo à minha volta da maneira que puder, mesmo que seja pequena.

O que te inspira?
Pessoas. Tenho uma admiração e apreço inesgotável pelas pessoas à minha volta e sou um tanto otimista na natureza humana em si. Sinto-me sensibilizada por histórias de pessoas a lutar contra injustiças e desigualdades, pessoas a reimaginar o mundo à sua volta. É isto que me faz continuar.
Como começou a tua luta contra as alterações climáticas e sustentabilidade?
Quando tinha 18 anos, estava a viver de uma maneira hedónia e um pouco superficial. Todas as minhas preocupações era onde ir almoçar, tomar café, ir sair à noite. Mas um dia eu pensei “Hey, tem de haver mais vida para além disto”. Por isso, decidi que queria educar-me sobre o que está a acontecer fora da minha “micro realidade” e comecei a fazer voluntariado. Na Greenpeace mas também na Amnistia Internacional, Médicos do Mundo e muitas outras organizações. De repente, estava super consciente de todas as coisas erradas com a sociedade em que estava a viver. Relativamente ao ambiente, eu estava espantada como a soução para a crise climática estava mesmo à nossa frente e ninguém parecia querer saber.
Para ti, quem é o maior responsável pelas alterações climáticas?
Capitalismo. Este sistema foi criado para explorar tanto o planeta como as pessoas que nele habitam. É também uma maneira “sem cara” de referir a causa do problema. Dizer “oh é o capitalismo”, muitas vezes é uma maneira de retirar a culpa e responsabilidade de grandes corporações, lobbies, governos e organizações internacionais, que são os que mantêm este sistema e lucram da destruição do planeta.
Como foi a tua experiência com a Greenpeace?
Sou voluntária e ativista na Greenpeace desde 2015. Também trabalhei no escritório Grego na receção e no departamento de angariação de fundos. Esta organização será sempre casa para mim. Tenho imensas histórias: organizar eventos para consciencializar pessoas, vestindo-me de peixe, parar pessoas na rua para os informar de campanhas, participar em campanhas diretas e não violentas, sempre rodeada de pessoas que se preocupam com o ambiente como eu e querem criar a mudança. Como voluntária aprendi tantas coisas sobre alterações climáticas e energias renováveis, pesca sustentável, poluição do plástico… Serei sempre grata à Greenpeace por isso e sentir que faço parte de uma comunidade global de pessoas que tem experiências semelhantes às minhas.

Alguma ação que te tenha marcado?
Acho que a ação que mais me marcou e que é um exemplo de aquele sentido de comunidade global que já referi, foi uma ação em Espanha. Foi marcante ver os ativistas da Greenpeace de várias partes do mundo a unirem-se e dizer não ao carvão e combustíveis fósseis, ficando horas numa canoa na água, pacificamente exigindo mudança. Estando lá senti o poder de pessoas quando se juntam, o apoio das comunidades locais para com os ativistas e o grande potencial que resistência não violenta criativa pode ter como ferramenta de ativismo.
Também irei sempre lembrar-me de um derrame de petróleo perto do porto de Atenas em 2017, que pintou todas as praias de Atenas de preto. Os voluntários a Greenpeace ajudaram os funcionários de limpeza e testemunharam a destruição. Eu lembro-me do cheiro do petróleo e como aquilo parecia inevitavel e sem fim. Lembro-me também dos ativistas a explicar como o petróleo iria ficar no ecosistema por vários anos, e como, depois de várias semanas de limpeza a costa parecia escura como antes. Na ação seguinte que fizemos em frente ao Ministério do Ambiente em Atenas, eu estava a segurar o cartaz “A questão não é se HAVERÁ mais um derrame de petróleo, mas sim QUANDO“.

Como estudante de ativismo, que dicas davas a alguém que está interessado em começar o seu ativismo?
Diria para olharem para a sua comunidade local. Há sempre pessoas interessadas pelos mesmos assuntos que tu. Vai ter com eles, aprende e juntos criem a mudança.
Existem várias maneiras de ser ativistam muitas vezes só se pensa em pessoas nas ruas em protesto. Que outras ténicas sugeres que podem ter um impacto?
Manifestações podem ser eficazes e poderosas, pois fazem com que te sintas menos sozinho no teu ativismo. Sinto que ação direta não violenta e desobediência civil são das técnicas mais eficazes. Não há uma resposta fácil para o que é ação direta não violenta. Pode ser tudo o que interrompe/desafia a maneira normal de fazer as coisas. Quanto mais inexpectável, disruptiva e participava for, melhor. Sugiro que vejam o site “Beautiful Trouble” para entenderem melhor desobidiência civil e aprender outros métodos de resistência criativa.
Qual é um desejo que tens para o futuro?
Reimaginar a palavra “normal”. Criar uma nova realidade baseada em comunidades de amor. Amor uns pelos outros e pelo planeta.
Filme: “Captain Fantastic”

Livro: “This Changes Everything” de Naomi Klein