ESTIMA-SE QUE, TODOS OS ANOS, OS OCEANOS SEJAM POLUÍDOS COM CERCA DE 4,8 MILHOES A 12,7 MILHÕES DE TONELADAS DE PLÁSTICOS.

Tête-à-tête com Inês Monteiro

Inês Monteiro

São tantas as pessoas que me inspiram, seja na área ambiental ou fora, anónimas ou mais conhecidas. E claro, como não sou rapariga de guardar as coisas para mim, estreio hoje uma nova rubrica aqui na “tasca” em que vou entrevistar pessoas que me inspiram que vocês precisam de conhecer, especialmente na área de ambiente e sustentabilidade. Preparem-se para conhecer pessoas fantásticas!

E no primeiro Tête-à-tête vamos até Leiria conhecer a Inês Monteiro, uma apaixonada pelo mundo e conhecer novas pessoas e culturas! Conheci a Inês num evento em Espanha, ai fomos colegas de quarto e a amizade foi instantânea. Não falamos tanto como antes mas sigo a sua conta do Instagram religiosamente, sinto-me a viajar e ir em aventuras sem sair de casa! Tanto quando está em casa ou a viajar a Inês tenta implementar medidas sutentáveis no seu dia à dia. Prontos para conhecer esta rapariga incrível?

Fala-nos um bocadinho sobre ti, para os nossos leitores te conhecerem.

Olá, sou a Inês, tenho 22 anos e sou uma amante da natureza, viagens e aventuras. Estudo Desporto e Bem Estar, no Politécnico de Leiria e sonho um dia mostrar-vos a natureza do nosso país através de um par de botas.

Quais os valores que te movem?

A honestidade, bondade e autenticidade. Sempre valorizei estes valores nas minhas relações para com a outras pessoas. São estas valências que nos tornam melhores pessoas e acredito que conseguimos atingir os nossos objetivos de vida se nos regermos sempre por eles. Só assim podemos ser verdadeiros connosco mesmos. E é isto que me faz acreditar que posso fazer parte da mudança, por mais pequena que seja.

Acompanho-te no Instagram, e adoro ver as tuas viagens por Portugal e fora. Até agora qual foi a tua preferida?

É difícil escolher, cada viagem é única pelas experiências que nos proporcionam, as pessoas locais têm uma grande influência, conhecemos sempre boa gente quando se viaja. Muitas vezes, são essas pessoas que nos marcam, que nos fazem viajar dentro de uma viagem, pelas histórias que nos contam dos seus passados. Mas, a ter que escolher, seria a viagem à Madeira e Porto Santo, foi uma descoberta de uma realidade tão diferente e tão próxima. Principalmente Porto Santo, já se imaginaram a viver numa ilha com 11km de comprimento e 6km de largura. Quase toda a gente se conhece, ali vive-se em harmonia. Comemos aquilo que a ilha dá e que a terra produz. Vive-se com muito e com pouco, quiçá não serão mais felizes que os outros que vivem no continente, que vivem com muito, mas pouco?

Sei que andaste de carro, por várias praias com uma tenda atrás! Como foi esta experiência?

Foi das maiores, senão a maior, aventura da minha vida até hoje. Num registo bastante diferente ao que estava habituada, por isso foi também um desafio. Era um desejo muito grande meu e da minha parceira de viagens, a Micaela. Ambas procurávamos uma aventura diferente pelo nosso Portugal, não foi preciso pensarmos muito para nos “fazermos ao caminho”. E quando acabou já estávamos a planear a próxima aventura.
Foi uma experiência desafiante, sobretudo em tempos de Covid, mas nem por isso deixámos de conhecer pessoas novas nestas viagens. Lembro-me perfeitamente da Dona Mafalda, que conhecemos em Vila de Rei, estava na sua barraquinha a vender lembranças, no Centro Geodésico de Portugal, e nós não evitámos trocar dois dedos de conversa, num instante percebemos que também ela era natural de Leiria e que, coincidência ou não, no dia anterior tínhamos conhecido o seu marido, com quem igualmente travamos conversa. Estivemos ali cerca de 2 horas, ou mais pois nem demos pelo tempo passar, sei que quando fomos embora saímos de lá com um sorriso de orelha a orelha. Esta senhora não só nos proporcionou momentos de risadas e alegrias como também nos deixou de coração derretido, deu-nos garrafas de água congelada para aguentarmos o calor que se fazia sentir, para colocarmos na geleira e mantermos os nossos alimentos frescos e ainda nos adoçou com chocolates para a viagem. Fez o nosso dia!

Que dicas dás para quem também quer aventurar-se nisso mas não sabe como fazer?

O primeiro passo é haver vontade pois quando há vontade, tudo pode ser possível. A partir daí é começar a planear a viagem com os sítios que queremos conhecer e organizar a logística: fazer uma checklist com o material necessário a levar. No nosso caso aproveitámos as coisas que cada uma de nós tinha, por exemplo, eu não tinha mesa de campismo, mas a minha colega levou a dela, assim não gastámos dinheiro na aquisição de novos materiais, juntando o útil ao agradável.

Nas tuas viagens vês muita poluição como, por exemplo, em praias? Como te sentes com isso?

Infelizmente sim, é uma realidade que pode ser vista a olha nu. Em Fernandaires, uma praia fluvial em Vila de Rei, encontrámos um cenário surreal, a praia tem excelentes condições, inclusive um café e balneários, portanto tem caixotes do lixo suficientes e nós deparámo-nos com uma quantidade de lixo estúpida num terreno, ao lado do parque onde montámos a tenda. Tomámos a iniciativa de recolher todo aquele lixo que, para nosso desagrado, foi feito por campistas e caravanistas. Felizmente sabemos que as mentalidades estão a mudar e há cada vez mais pessoas conscientes.

E o que fazes diariamente para diminuir a tua pegada ecológica?

Acho que posso fazer muito mais do que aquilo que faço atualmente, mas também acho que qualquer pequena mudança já faz a diferença! Como vivo na aldeia tenho vantagem de ter uma horta / quintal em casa no qual todos os anos planto alimentos como tomates, pepinos, pimentos, etc. para além de ser uma opção muito mais ecológica é também uma terapia, pois quando estou a tratar das plantas não penso em mais nada. Mais recentemente, tenho despertado o interesse pelo tema “segunda mão”. Antes da última viagem que fiz de carro, eu e a minha colega Micaela juntamo-nos e participámos em duas feiras de velharias / segunda mão para vendermos os nossos bens materiais: livros e roupas, como forma de angariarmos dinheiro para a nossa viagem. Eu própria já tenho comprado roupa em segunda mão a colegas minhas. Esta é também uma forma sustentável de ajudarmos a nossa comunidade, gerando lucro para ambas as partes. Quando estive de Erasmus na República Checa fiquei abismada com a quantidade de lojas de roupa em segunda mão que existem naquele país! Para eles é um conceito já bastante integrado na sociedade e que deveria servir de exemplo a outros países como Portugal. Também lá, fiz dumpster diving que, para quem não sabe, é o termo usado para salvar comida (em bom estado) que iria para o lixo. O desperdício de comida é uma realidade em muitos países como República Checa e Portugal. Felizmente já existem associações como a Refood, que trabalha em prol do combate a esse desperdício e ajuda quem mais precisa.

viagens_sustentaveis_Ines_Monteiro

Ainda sobre as tuas viagens, talvez seja mais difícil ser sustentável. Como fazes para que isso seja possível?

Se acham que ser sustentável em viagem é difícil então é porque nunca tentaram! Existem milhares de opções ao nosso dispor para tornarmos a nossa viagem sustentável e ecológica. Dou-vos o exemplo dos banhos, não tenho nenhum sistema tipo chuveiro portátil então a solução era tomar banho em rios de água doce ou balneários públicos, a opção mais utilizada foi a primeira e para tal usei um sabonete líquido multiusos biodegradável (dava para lavar a louça e tomar banho) sem que estivesse a perturbar / contaminar o meio ambiente! Utilizei louça que tinha em casa, nada de descartáveis! A água era recolhida das fontes por onde passávamos que mais tarde servia para beber, cozinhar e até lavar a louça!

Para o futuro, diz-me um desejo teu?

Desejo que as próximas gerações continuem o trabalho que temos vindo a fazer, acredito que a mudança já esteve bem mais longe do que imaginamos, mas também acredito que outros problemas vão surgir na nossa sociedade, mas até lá já estamos a criar as ferramentas necessárias e juntos vamos conseguir criar um futuro igual para todos.

Sugestões da Inês

O-Santo-o-Surfista-e-a-Executiva

Livro: “O Santo, o Surfista e a Executiva” de Robin Sharma

Podcast: Metamorfose Ambulante de Viagens Beleza

Filme: “Expedition Happiness”

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The truth is: the natural world is changing. And we are totally dependent on that world. It provides our food, water and air. It is the most precious thing we have and we need to defend it.

David Attenborough