ESTIMA-SE QUE, TODOS OS ANOS, OS OCEANOS SEJAM POLUÍDOS COM CERCA DE 4,8 MILHOES A 12,7 MILHÕES DE TONELADAS DE PLÁSTICOS.

Impacto da indústria da moda

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Quando pensamos em poluição, o que nos vem à mente em primeiro lugar são os transportes. No entanto, o impacto da indústria da moda é igualmente alto sendo esta considerada uma das mais poluentes, desde a produção, fabrico, transporte e uso (lavar, secar e engomar) – não só para o ambiente mas também para as pessoas

Estima-se que a indústria têxtil seja o segundo maior consumidor de água, segundo a Global Fashion Agenda (1,5 triliões de litros por ano), por exemplo.

O que é a Fast Fashion ("Moda rápida")

A prática de Fast Fashion começou nos anos 70, mas o conceito apenas foi reconhecido nos anos 90. Empresas como Zara, H&M, Bershka, que trabalham no modelo fast fashion observam o que as pessoas consomem das grandes marcas e fabricam, em grande escala, modelos parecidos mas com qualidade inferior

Estas marcas produzem o que é chamado de Moda Globalizada, ou seja, peças de roupa e acessórios que podem ser utilizados em qualquer local do mundo. Ao produzir peças que fogem ao local e são focadas no global, o custo final de produção é menor

Enquanto até há pouco tempo existiam quatro coleções por ano – Coleção de Primavera, Verão, Outono e Inverno – hoje em dia existem inúmeras mini coleções dentro de cada uma destas, o que promove o consumismo impulsivo e desnecessário. Vemos vídeos de youtubers de moda e beleza com “10 peças de roupa que não podes perder esta estação” e “as peças de roupa que têm de estar no teu armário”, como se ter inúmeras roupas e acessórios que, na realidade, quase não usamos, de uma necessidade básica se tratasse.

Qual é afinal o impacto da indústria da moda?

Dia 24 de Abril de 2013, o desabamento de um edifício de três andares, uma fábrica de tecidos no Bangladesh onde morreram pelo menos 377 pessoas, mostrou-nos o lado negro da moda

É no norte da capital Dhaka que se concentra a maior parte das fábricas de roupas do país – muitas destas fabricantes de peças para marcas internacionalmente conhecidas como a Primark.

No mesmo local, um incêndio reduziu a cinzas uma fábrica que fazia roupas para a cadeia americana de supermercados Walmart – morreram 100 trabalhadores.

Depois da China, o Bangladesh é o segundo maior produtor de têxteis do planeta. A indústria da moda emprega 5 milhões de pessoas, o que ajuda a reduzir as taxas de pobreza. No entanto, a maioria das pessoas que trabalha nas fábricas das marcas de fast fashion são mulheres. Para além disso, muitas vezes, para reduzir custos, as marcas contratam crianças menores de idade que acabam por trabalhar em condições precárias, por vezes ilegais, para receber um salário baixo. Já foi provado que grandes fabricantes utilizam contratações ilegais, horários de trabalho superiores a 16 horas, condições degradantes e pagamentos ínfimos.

Rana Plaza, Bangladesh (Fonte: Público)

Para além da questão social, temos a vertente ambiental.

A viscose é um material comum nas nossas peças de roupa. Infelizmente, cerca de 30% da viscose produzida é proveniente de árvores de florestas nativas e ameaçadas de extinção, como a Amazônia. Para além disso, a produção de viscose exige uso excessivo de energia e água – para cada quilo de viscose produzida são utilizados 640 litros de água – e cerca de 70% do material é descartado durante o processo. 

O algodão é a fibra natural que representa 90% de todas as fibras naturais usadas na indústria da moda. Apesar de ser um produto natural, a produção de algodão exige o consumo de muitos recursos – como cerca de 30.000 litros de água para apenas 1kg de algodão. O cultivo de algodão corresponde a 24% de todo o consumo de inseticidas e 11% dos pesticidas utilizados na agricultura mundial

O poliéster é um material comum não só nas roupas mas também em acessórios e coisas do dia a dia (como garrafas de água). A sua produção é pouco sustentável pois é produzido a partir de petróleo ou de gás natural (não renováveis e poluentes) e causa danos ambientais pois a sua produção emite compostos orgânicos voláteis (VOC). O gasto de água é igualmente alto – 20 litros de água para 1kg de poliéster.

Milhões de animais são sacrificados para obtenção de peles. Como exemplo, temos as raposas, chinchilas, visons, coelhos e couro de cobras e crocodilos, assim como plumas de pavão e outros pássaros.

Em Portugal deitam-se fora cerca de 200 mil toneladas de roupa por ano – representa cerca de 4% do total de resíduos produzidos em Portugal. Embora pudessem ser recicladas ou doadas, muitas destas peças acabam em aterros. As roupas feitas a partir de tecidos não biodegradáveis podem ficar nesses aterros até 200 anos.

35% dos microplásticos que acabam nos oceanos são resultantes do desgaste de têxteis sintéticos durante as lavagens. A Europa e a Ásia Central despejam o equivalente a 54 sacos de plástico em microplásticos por pessoa e por semana nos oceanos.

A produção em massa – com as roupas a ser desenhadas num país, produzidas noutro e comercializadas por todo o mundo – faz com que a indústria da moda seja responsável por 1,2 biliões de toneladas de gases de efeito de estufa por ano (mais do que a aviação comercial e a indústria naval juntas).

Fotos: Caitriona Rogerson

Como diminuir o impacto da indústria da moda?

Já falámos aqui no site sobre como comprar roupa em segunda mão só tem vantagens – para nós e para o planeta. Para além de ser mais barato, é possível encontrar peças únicas, diferentes e interessantes para o nosso roupeiro. 

A Slow Fashion – ou “moda lenta” – surgiu como uma alternativa socioambiental mais sustentável no mundo da moda. Marcas de slow fashion dão prioridade ao local e não ao global, promovem consciência socioambiental, praticam preços reais, produzem em pequena/média escala e cada peça tem um tempo de vida útil mais longo

O Projeto 333 consiste em escolher 33 peças (roupa, sapatos, acessórios e jóias), ou menos, para usar durante 3 meses. Neste caso não estão incluídas roupa interior, roupa de desporto (que seja utilizada apenas para fazer desporto), pijamas e jóias que nunca tiras. Depois de um desafio destes, é muito mais simples criar o nosso “armário cápsula” – um armário funcional e livre de roupas e acessórios que não usas. O objetivo é que tenhas apenas peças que realmente gostas, que sejam alinhadas com o teu estilo e que sabes que vais usar várias vezes. 

Antes de mandares alguma roupa fora, tenta perceber se não é possível dar-lhe um destino diferente: Está rasgada – Será que não dá para remendar? É aborrecida – Será que não dá para a alterar de forma a ficar mais interessante? Já não é o meu estilo – mas a minha amiga ou irmã se calhar ia gostar de usar, ou alguma instituição poderá aceitar.

Preciso mesmo desta peça? De que materiais é feita (são resistentes e fáceis de reciclar)? Onde foi produzida? (localmente ou do outro lado do mundo) Daqui a alguns anos será que ainda vou vestir? (é um básico que nunca passa da moda ou é um padrão trendy mas que daqui a uns meses já não vou querer usar) O preço que estou a pagar é justo? (uma tshirt que custa 2€ dificilmente dá lucro suficiente para pagar um salário justo a quem a produziu)

Queres saber mais?

Fashion Revolution (ou “Revolução da moda”) é um movimento mundial constituído por designers, estudantes, escritores, diretores, marcas, produtores, criadores, trabalhadores, e apaixonados por moda no geral, com o objetivo de transformar a indústria da moda numa indústria que protege e recupera o ambiente e que valoriza as pessoas acima do lucro. Tem também um podcast focado nos impactos socio-ambientais da moda.

No site é possível encontrar vídeos que ensinam como cozer um botão ou como remendar uma camisola rasgada

O documentário “The True Cost” fala-nos sobre as roupas que vestimos, as pessoas que as produzem e o impacto que a indústria da moda tem no nosso planeta. Apresenta-nos factos como:

  • Dos cerca de 40 milhões de pessoas que produzem roupas, 85% são mulheres
  • No mundo, são consumidas cerca de 80 biliões de peças de roupa novas, todos os anos.
  • O algodão representa praticamente metade da fibra total que é utilizada para produzir roupas. Mais de 90% desse algodão é modificado geneticamente, utilizando não só grandes quantidades de água como também de químicos.

No documentário “River blue” temos Mark Angelo, especialista em rios, a mostrar-nos o resultado da poluição da indústria da moda em diferentes rios do mundo – desde despejos de lixo químico que é tóxico aos processos químicos de produção  

Mark mostra-nos o quanto os rios são importantes, não só para as comunidades que deles dependem mas também para o ecossistema. 

Textile Mountain” (“Montanha de Têxteis”) fala-nos sobre o lixo produzido pela indústria da moda, nomeadamente sobre as peças que são deitadas fora. A “montanha” refere-se ao aterro Dandora, em Nairobi – o maior aterro de África e um dos maiores do mundo onde, por dia, são despejadas 2000 toneladas de lixo não separado dos residentes e negócios da cidade. 

 

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RECICLAR NÃO CHEGA

The truth is: the natural world is changing. And we are totally dependent on that world. It provides our food, water and air. It is the most precious thing we have and we need to defend it.

David Attenborough